quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A privataria tucana

Posto aqui reportagem sobre o livro a privataria tucana veiculada pela record news.

Por Jorge Furtado

“Terminei de ler o extraordinário trabalho jornalístico de Amaury Ribeiro Jr., “A Privataria Tucana” (Geração Editorial), o livro mais importante do ano. 

Para quem acompanha a vida política do país através de alguns blogs e da revista Carta Capital, não há grandes novidades além dos documentos que comprovam o que já se sabia: a privatização no Brasil, comandada pelo governo tucano, foi a maior roubalheira da história da república.

O grande mérito do livro de Amaury é a síntese que faz da rapinagem, e a base factual de suas afirmações, amparadas em documentos, todos públicos. Como bom jornalista, Amaury economiza nos adjetivos e esbanja conhecimento sobre o seu tema: o mundo dos crimes financeiros.

A reportagem de Amaury esclarece em detalhes como os protagonistas da privataria tucana enriqueceram saqueando o país. De um lado, no governo, vendendo o patrimônio público a preço de banana. Do outro, no mercado, comprando as empresas e garantindo vida mansa aos netos. Entre as duas pontas, os lavadores de dinheiro, suas conexões com a mídia e com o mundo político.

PROTAGONISTAS

Os personagens principais da maracutaia, fartamente documentada, são gente do alto tucanato: Ricardo Sérgio de Oliveira (senhor dos caminhos das offshores caribenhas, usadas pela turma para esquentar o dinheiro), Gregório Marin Preciado (sócio de José Serra), Alexandre Bourgeois (genro de José Serra), a filha de Serra, Verônica (cuja offshore caribenha, em sociedade com Verônica Dantas, lavou pelo menos 5 milhões de dólares), o próprio José Serra e o indefectível Daniel Dantas. Mas o livro tem também informações comprometedoras sobre o comportamento de petistas (Ruy Falcão e Antonio Palocci), sobre Ricardo Teixeira e sobre vários jornalistas.

A quadrilha de privatas tucanos movimentou cerca de 2,5 bilhões de dólares, há propinas comprovadas de 20 milhões de dólares, dinheiro que não cabe em malas ou cuecas. O livro revela também o indiciamento de Verônica Serra por quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros e traz provas documentais de sua sociedade com Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas, do Banco Opportunity, numa offshore caribenha.

ALGUNS DESTAQUES DO LIVRO:

As imagens do Citco Building, em Tortola, Ilhas Virgens britânicas, gavetas recheadas de empresas offshore, "a grande lavanderia", pág. 43.

Sobre a pechincha da venda da Vale, na pág. 70.

Sobre o grande sucesso "No limite da irresponsabilidade", na voz de Ricardo Sérgio, pág. 73.

Sobre o MTB Bank e sua turma de correntistas, empresários, traficantes e políticos de várias tendências, e a pizza gigante de dois sabores (meio petista, meio tucana) da CPI do Banestado, pág. 75.

Como a privatização tucana fez o governo (com o seu, meu dinheiro), pagar aos compradores do patrimônio público, pág.171.

A divertida sopa-de-nomes das empresas offshore, massarocas intencionais para despistar a polícia do dinheiro do crime, pág. 188.

Os grandes personagens do submundo da política, arapongas que trabalham a quem pague mais, pág. 245.

Um perfeito resumo do que realmente aconteceu na noite dos aloprados, no Hotel Ibis, em São Paulo, pág. 282. 

Um retrato completo do modus operandi da mídia pró-serra na eleição de 2010, a partir da pág. 295.

Outro resumo perfeito, do caso Lunus, quando a arapongagem serrista detonou a candidatura de Roseana Sarney, pág. 314.

Sobre para-jornalistas que acabam entregando suas fontes e sobre fontes que confiam em para-jornalistas, pág. 325.

SILÊNCIO DA MÍDIA

O índice remissivo e a quantidade de dados que o livro de Amaury apresenta já o tornaria peça obrigatória na biblioteca de quem pretende entender o Brasil. Mas "A Privataria Tucana" também lança constrangedor holofote sobre a grande imprensa brasileira, gritantemente pró-Serra, que é cúmplice, ao menos por omissão, da roubalheira que tornou o país mais pobre e alguns ricos ainda mais ricos. 

Imagine você o que essa imprensa – que gasta dúzias de manchetes e longos programas de debate na televisão numa tapioca de 8 reais ou em calúnias proferidas por criminosos conhecidos - diria se um filho de Lula, Dilma ou qualquer petista fosse réu em processo criminal de quebra de sigilo bancário. Segundo o livro de Amaury (e os documentos que ele traz) a filha de José Serra é ré em processo criminal por quebra de sigilo bancário. (p. 278) 

O ensurdecedor silêncio dos grandes jornais e programas jornalísticos sobre o livro “A privataria tucana” é um daqueles momentos que nos faz sentir vergonha pelo outro. A imprensa, que não perde a chance - com razão - de exigir liberdade para informar, emudece quando a verdade contraria seus interesses empresariais e/ou o bom humor de seus grandes anunciantes. Onde estão as manchetes escandalosas, as charges de humor duvidoso, os editoriais inflamados sobre a moralidade pública? Afinal, cadê o moralista que estava aqui?” 

domingo, 11 de dezembro de 2011

A publicidade infantil invade a tevê, mostra pesquisa

Sem leis que regulamentem exclusivamente a publicidade infantil, anúncios para crianças pipocam na programação nas tevês brasileiras. Uma pesquisa recente do Instituto Alana, que monitorou 15 canais pouco antes do Dia das Crianças, constatou que 64% das propagandas são direcionadas para este público. 

Por Clara Roman, em Carta Capital

Crianças são mais vulnerávies a anúncios / Foto: Crescer
O estudo focou em canais da TV aberta, como Globo, SBT, Bandeirantes e Record, e em canais da tevê fechada exclusivos para o público infantil, como Cartoon Network, Discovery Kids e Disney XD.

A empresa de brinquedos Mattel foi o destaque da pesquisa como a que mais anuncia para crianças. Em segundo lugar, a também multinacional Hasbro. A falta de legislação sobre o assunto permite que a publicidade infantil transcorra livremente. Mas, segundo o Instituto Alana, reclamações de pais são bastante comuns. O Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária (CONAR) é financiado pelas próprias empresas e não tem caráter governamental.

“As empresas sabem que as crianças influenciam a compra”, afirma Gabriela Vuolo, do Instituto Alana. A lei Nº5921 de 2001, que tramita há dez anos sem aprovação, proíbe a publicidade e “comunicação mercadológica” dirigida ao público infantil. Dentre os argumentos contra a propaganda, está a falta de discernimento das crianças como espectadoras. Segundo Vuolo, até os 12 anos a pessoa ainda não entende qual é a intenção da publicidade. Até os oito, nem mesmo percebe o que faz parte da programação normal do canal.

A publicidade infantil, explica Vuolo, é interessante para as empresas porque fidelizam desde cedo as crianças aos seus produtos. “Ao mesmo tempo, a publicidade passa valores distorcidos, estimulando o consumismo e a ideia de que é necessário ter para ser alguém”, acrescenta.

Vencedora do prêmio-protesto “Empresa mais Manipuladora” do Alana, a Mattel manifestou que é uma companhia comprometida com o desenvolvimento infantil e acredita nos “benefícios do brincar”. Além disso, afirma que respeita a legislação brasileira e analisa as recomendações feitas pelo Conar. Para o Instituto Alana esse é justamente o problema.

Para as empresas, não há necessidade de infringir as leis, pois elas são suficientemente permissivas. O Conar, por sua vez, não mantém boas relações com o Instituto. No início do ano, o Alana enviou uma “denúncia” ao órgão contra uma campanha do McLanche Feliz veiculada durante o trailer de animação infantil “Rio”. A negativa do Conar veio acompanhada do veto do relator do processo com a seguinte frase: “Vale a fantasia de trocarmos o nome Instituto por outro mais característico – a bruxa Alana, que odeia criancinhas”. Desde então, o Alana deixou de enviar pedidos ao órgão de autoregulamentação.

O Alana questiona a validade do Conselho, com financiamento e participação de anunciantes, agências de publicidade e veículos de comunicação. O Conar, por sua vez, afirma que o Alana é uma entidade “que tem como grande objetivo na vida proibir publicidade para crianças e adolescentes, mas desconsidera a opinião dos pais e a educação familiar”, segundo a assessoria de imprensa.

Vuolo alerta para alguns perigos principais da publicidade. Uma questão ética permeia o debate, já que os anúncios estimulam o consumo inconsciente para um público que não tem a capacidade de fazer essa reflexão, contrariando o discurso em voga da sustentabilidade. Há também o estresse dos pais causado pelo “fator amolação”, quando as crianças infernizam os pais até que seus desejos sejam acatados. Os pais muitas vezes cedem, mesmo que isso signifique endividar-se depois.

“O pai fica numa situação de ‘Davi contra Golias’: a indústria diz que tem que comprar e joga para o pai a tarefa de dizer não”, explica ela. Há outros riscos como o estímulo à obesidade infantil. A maior parte das propagandas diz respeito a produtos com baixos valores nutricionais, com grandes quantidades de açúcar, sódio ou refrigerantes. 

Sutiã infantil da Disney imita volume dos seios de mulheres adultas / Foto: Jornal do Brasil

Além disso, a publicidade pode incentivar a erotização precoce, como em um caso recente de uma marca de sutiãs que vendia peças com enchimento para meninas de 6 anos – com ilustrações do personagem “Sininho”, do filme “Peter Pan”. “A situação para as empresas é muito confortável. Mas as crianças acabam prejudicadas”, afirma Vuolo.

CAMPANHA #ALTOTIETÊDIGITAL

Inicia-se neste domingo, dia 11, uma inédita semana de mobilização dos internautas da região com o intuito de sensibilizar o poder público a investir na disponibilização de sinal gratuito de internet, em todo o território dos municípios. A campanha com o termo #AltoTietêDigital será realizada nas redes sociais Twitter e Facebook e em blogs.

O programa Cidade Digital, já implantado em diversas cidades do país, traz grandes benefícios. Entre eles, propicia a inclusão digital e garante aos cidadãos o direito de não apenas receber informações, mas serem também produtores de conteúdo, seja através de vídeo, texto ou áudio. A dinâmica da internet é capaz de gerar a estas produções uma enorme audiência em pouquíssimo tempo. São mais vozes sobre determinado assunto. É mais pluralidade, é mais democracia.

A própria ONU (Organização das Nações Unidas), em recente relatório sobre promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão, garantiu que o uso da internet é um direito humano. O acesso à informação e a liberdade de expressão são direitos que devem ser preservados pelos Estados.

Já vimos que as empresas concessionárias de telefonia não foram capazes de difundir em todo país os serviços de internet. Quando conseguiram, fizeram um serviço ruim, de baixa qualidade, e com alto custo. Pesquisas demonstram que este serviço no Brasil é um dos mais caros do mundo. O próprio PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) promovido pelo governo federal não será um agente eficaz na inclusão digital. Será organizado por estas mesmas empresas que demonstraram a incapacidade de gerir tão importante instrumento para o país. OBlog de Poá já tratou disso em Julho.

Faz-se necessário, portanto, o poder público dar um passo largo, inovar, e ser realmente um agente do desenvolvimento local. O Cidade Digital vai além do sinal livre de internet a todos os moradores. Vai ao encontro de uma gestão moderna, eficaz e ágil. Uma administração que presta serviços on-line, com menos burocracia e que propicia canais alternativos de comunicação com a população. Os cidadãos poderão saber de informações mais rápido e ao mesmo tempo podem participar da gestão, dialogando e criticando com mais constância.

É o futuro chegando mais rápido às nossas cidades. Nossos administradores precisam ser mais ousados e chegou a hora. Não é custo, é um investimento social para nossa população. É a garantia de termos pessoas mais conectadas, preparadas e, obtendo mais informação, mais críticas.

Os internautas sabem da importância de se garantir o acesso e fazem esta mobilização. É momento, portanto, de o poder público entender o sinal e agir para que se garanta esse direito humano

Por Leandro de Jesus