sábado, 2 de abril de 2016

Quando projeto vira dor de cabeça

O título desse post é reflexo do que acontece em algumas redes de ensino em municípios de São Paulo com a modalidade didática projeto ou mesmo com uma pretensa pseudo pedagogia de projetos. Ou seja, usa-se tal modalidade para fazer o que diz o ditado popular "serviço para inglês ver" e principalmente  para debandar mais trabalho aos docentes, no caso um trabalho descontextualizado com a realidade das unidades escolares.
É importante definir o conceito de projeto. Em primeiro lugar coloco o projeto com modalidade organizativa do trabalho pedagógico em sala de aula que autores como Délia Lenner propõem. A definição que segue é de Alfredina Nery encontrada no documento do MEC " Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações para inclusão da criança de seis anos de idade" de 2007:

"Essa modalidade de organização do trabalho pedagógico prevê um produto final cuja planejamento tem objetivos claros, dimensionamento do tempo, divisão de tarefas e, por fim, a avaliação final em função do que se pretendia."(pag.119)

A definição exposta por Nery reduz(o que não se trata de uma redução depreciativa) ao um trabalho realizado especificamente em sala de aula com um determinado tema, tempo e finalidade a ser desenvolvido por classe especifica.
Tal modo de pensar o projeto quando formulado pelo(a) professor(a) culmina em ter uma conexão muito maior com a comunidade escolar pois é elaborado pelas partes envolvidas e principalmente por nascer de uma necessidade ou problema desta comunidade. Aí tendo uma possibilidade bem maior de  êxito não só por ter um produto final bem produzido mas por o melhor envolvimento dos participantes.
De outro lado há a concepção pedagógica com origem no escolanovismo, no aprender a aprender e no construtivismo que é a pedagogia de projetos. Utilizo da ideia de Machado 2000, Rué 2002 e Hernández 1998 encontrados em Araujo 2008 para elucidar tal concepção:

"Para compreender seu significado geral, o autor aponta três características fundamentais de um projeto: § a referência ao futuro; § a abertura para o novo; § a ação a ser realizada pelo sujeito que projeta. Projetos podem ser compreendidos também como estratégias de ação e possuem três características constitutivas (Rué, 2002, p.96): § a intenção de transformação do real; § uma representação prévia do sentido dessa transformação (que orienta e dá fundamento à ação); § uma ação em função de um princípio de realidade (atendendo às condi- ções reais decorrentes da observação, do contexto da ação e das experiências acumuladas em situações análogas). Com os projetos pretende-se (Hernández,1998, p.73): § estabelecer as formas de pensamento atual como problema antropoló- gico e histórico; § dar um sentido ao conhecimento baseado na busca de relações entre os fenômenos naturais, sociais e pessoais, ajudando-nos a compreender melhor a complexidade do mundo em que vivemos; § planejar estratégias para abordar e pesquisar problemas que vão além da compartimentalização disciplinar. Se pensarmos a organização escolar a partir de tais idéias, podemos falar de uma pedagogia de projetos. Ou seja, podemos acreditar que um caminho possível para trabalhar os processos de ensino e de aprendizagem, no âmbito das instituições escolares, pode ser através de projetos, concebidos como estratégias para a construção dos conhecimentos.(pág.197)"

Percebam que a partir do que os autores discorrem a ideia do "projeto" vai além do trabalho realizado em sala de aula, por isso usamos o termo concepção  no parágrafo anterior. A pedagogia de projetos, quando assumida requer uma visão transversal. Requer também reformulação do currículo, repensar materiais como os livros didáticos, formas e concepções de avaliação.
Entretanto, não é o que ocorre. 
O real é elaboração de projetos desconexos com as realidades das unidades. Na vontade esbaforida de produzir situações e materiais para "inglês ver" e propagar a falsa imagem de que na rede de ensino se produz conhecimento e está "antenada" com as novas tendências pedagógicas(e como o ideário dominante a ser explicado no penúltimo parágrafo), são elaborados projetos de uma hora para outra com objetivos, estratégias e avaliações descompassadas com os projetos políticos - pedagógicos e planos de ensino das unidades, causando um mal estar entre docentes e coordenadores pedagógicos e principalmente: prejudicando a aprendizagem dos(as) alunos(as). Pois, é destinado tempo ou até mesmo paralisado trabalhos em andamento para o cumprimento de tal projeto.
Isso tudo mostra o descaso real com a boa qualidade social da educação pública. Até porque a pedagogia de projetos não é a mais adequada ser adotada pelas redes publicas de ensino voltadas aos filhos(as) de trabalhadores(as) e que tem como objetivo o avanço real da educação. Ainda sobre a pedagogia de projetos,bem como sobre o construtivismo, aprender a aprender e outras do mesmo ideário compartilhamos da ideia de Duarte quando o mesmo diz que tais pedagogias "...continuam ainda hoje a dar sustentação ideológica a esse misto de neoliberalismo e pós - modernismo que tem caracterizado as políticas educacionais."(2005). E tal pedagogia "estar visceralmente ligado à ideologia da classe dominante e mostrar-se inteiramente adequado à lógica do capitalismo contemporâneo..."(2005).
Ou seja, fazem mal a educação e principalmente àqueles que a recebem escolhendo a pedagogia de projeto como bola da vez, por ter como intuito a manutenção social e fazem o mal pois ainda a realizam de forma a atrapalhar os profissionais que arrevelia tentam fazer o processo pedagógico o mais adequado possível com a introdução de projetos soltos.

Fonte da Imagem: http://pt.slideshare.net/nadia_peres/pedagogia-de-projetos-curso

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